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In other words...

Monday 28 April 2014

Sapatos / Shoes

Daqui / From Here


Não sei como vou meter as minhas roupas todas, de verão, de inverno e de meia estação, em duas malas de porão e numa mala de mão. Já percebi que vou ter de levar parte agora e ir levando o resto quando cá voltar, consoante a estação em que estiver.
Mas o meu grande problema são os sapatos, aquelas coisas mal jeitosas para enfiar encaixadinhos numa mala: não só ocupam imenso espaço, como acabam por pesar mais do que o que eu queria. E sei que vou precisar deles todos, porque aqueles que deixasse cá seriam os que mais falta me fariam. E eu nem sou louca por sapatos...


Friday 25 April 2014

O beijo / Kisses

Lembro-me do primeiro beijo na testa que recebi. Andava no secundário, estava incomodada por já não sei bem o quê e, ao fundo das escadas, esperava-me a minha grande paixão do momento, não correspondida. Chamou-me para junto dele, conversou comigo e deu-me um beijo na testa.
Se fosse uma banda desenhada, teriam surgido vários pontos de interrogação à minha volta, porque só conseguia pensar que não se dá um beijo na testa a qualquer pessoa. Na cara é comum, na boca até pode ser fácil, mas na testa... só se dá um beijo na testa de alguém de quem se gosta mesmo muito, que queremos ter ao nosso lado o máximo de tempo possível. É um beijo unilateral, que não pode ser retribuído ao mesmo tempo. Só é dado porque se quer mesmo, não é deixado lá por distração.
De facto, nunca cheguei a saber o porquê daquele beijo. Provavelmente ele não pensava da mesma maneira que eu. Não interessa.
O que sei é que ainda hoje um beijo na testa me faz promessas, pede-me que fique, que nunca me esqueça. E é a minha maneira de fazer o mesmo.



25 de abril / 25th of April



O 25 de maio este ano é em abril.
De hoje a um mês fará um ano que casei e os meus planos incluíam comer parte do bolo que congelei com os meus sogros e a outra parte com os meus pais. Como num ano muita coisa muda e temos viagem marcada para daqui a umas semanas, ser-nos-á extremamente complicado levar e armazenar em Londres um bloco de comida congelada.
Já não sei muito bem como (acho que graças à minha chantagem emocional), o meu amor está neste momento a vir ter comigo para passar o fim de semana. Os planos mantêm-se, apenas com um mês de diferença: rumamos daqui para casa dos pais dele onde iremos vestir as roupas que usámos no dia 25 de maio de 2013 (temo muito que o meu vestido não feche!) e comer parte do bolo; pouco depois rumamos a casa dos meus pais, pelo caminho apanhamos a minha irmã/madrinha de casamento, onde iremos lanchar a outra parte do bolo.
À noite, e porque ainda não estaremos juntos no dia em que fazemos anos de namoro, vamos jantar os dois num restaurante por onde passamos todos os dias e onde nunca entrámos, já vestidos à civil.

Isto não invalida que no dia 25 de maio haja novamente festa, até porque no dia seguinte é feriado...

Wednesday 23 April 2014

Mudez / Unsaid



Quem fala arrisca-se a ouvir aquilo que não quer, a não ouvir aquilo que quer ou, pior, a não ouvir nada. E o silêncio das palavras escondidas por qualquer razão é das sensações que mais custam.
Ainda assim, prefiro não deixar nada de importante por dizer. Afinal, de um momento para o outro tudo pode mudar.

Tuesday 22 April 2014

Saturday 19 April 2014

Vantagens de viver sozinha (3) / Perks of living alone (3)

Os momentos de solidão têm sido poucos, mesmo quase raros, ao contrário daquilo que pensei. Lembro-me da primeira sexta feira que passei sozinha, sentada no sofá, à procura de companhia online para um bocadinho de conversa e de pensar que acabava de entrar numa fase muito complicada, com falta de conversas e de programas.
No entanto, têm-se revelado semanas de dias cheios, que em obrigam a adiar cada um dos meus projetos, por mais pequeno que seja. E de vez em quando sabem-me bem momentos como este, em que fico completamente sozinha, em que só eu sei onde estou, o que estou a fazer e em que estou a pensar. Ninguém me vê, ninguém me ouve, ninguém tem o mínimo de comunicação comigo. E eu posso planear, pensar, ou simplesmente não fazer nada.
Não por muito tempo, claro, que daqui a meia hora toca a campainha para um jantar de casa cheia.

Friday 18 April 2014

Turista na cidade / Tourist in my city



 Durante muito tempo, os meus dias passaram por Gaia, o que implicou que quase todos os dias passasse pelo menos duas vezes por cima do rio. E em praticamente todas essas viagens eu prometia a mim mesma que um dia sairia na estação anterior e faria o caminho até à seguinte a pé, parando a meio para tirar fotografias ao rio, à Ribeira e à marginal de Gaia.
A minha vida deixou de passar por Gaia e agora cinjo-me, sem qualquer problema, ao Porto. Todos os dias vejo as ruas, as casas, as árvores e os estabelecimentos deste lado, sem queixas, sem pesar. Mas nem sempre vejo o rio.
Agora que ando numa fase de despedida, convenci-me de que não fazia sentido ir-me embora e deixar aquela promessa por cumprir. Foi assim que numa tarde de feriado pousei, finalmente, os pés em cima da ponte D. Luiz, a meio caminho entre as duas cidades, por cima do rio.



Thursday 17 April 2014

Conversas ao acordar / Morning conversations (2)

Hoje de manhã ao chegar ao trabalho cumprimentei o coelhinho de uma colega, que tinha ido lá passear.
Cheguei ao meu lugar e, por alguma razão estranha, eu e ele começámos a falar por hashtags.
Digo eu:

- Aí em Londres não devem proibir coelhos em apartamentos. E este é mega fofo.
 #porfavorda-meum

Resposta dele, prontinha:

- #porfavornaoponhaifensnumhashtag


Wednesday 16 April 2014

Auto retrato / Self portrait (6)


Conversas ao deitar (5) / Midnight conversations (5)


Mandei-lhe uma mensagem a contar:
- Dei um tralho tão grande ao sair de casa dos meus pais que me deu cabo das costas.

Ele respondeu uma série de coisas acertadas:
- Andas sempre a cair, ultimamente (verdade: há duas ou três semanas contei-lhe, cheia de vergonha, que caí no meio da empresa...).
- Estou a ficar preocupado com essa senilidade (não sei se é senilidade ou se é só mesmo a faltinha de jeito que me acompanha constantemente).
- Nos últimos dois meses caíste mais vezes do que eu nos últimos dez anos (dois meses não diria, mas fazendo contas aos últimos seis meses, acho que ando a fazer uma média bastante jeitosa).
- Devias ser proibida de usar saltos (quanto a esta... nada a comentar. Disparates).

Monday 14 April 2014

Deixar ir / Letting go

Às vezes há pessoas que nos morrem, seja por uma doença, por um acidente, ou por velhice. Já me morreram algumas pessoas próximas, já sofri e vi sofrer por quem morreu e sei o que dói, o que custa querer só mais um dia, uma hora que fosse para se poder dizer tudo o que ficou por dizer, para se poder contar todas as palavras.
E outras vezes há pessoas que temos de matar em nós, para podermos esquecer todo o mal que nos fizeram, mesmo que antes disso tenha havido tantas coisas boas para recordar. Matamos essas pessoas, deixamo-las morrer na nossa vida, para que os maus momentos presentes não se sobreponham aos bons passados, para que a mudança não nos corroa e nos permita continuar a ser quem somos.
É no momento em que a raiva passa, a vontade de dizer tudo acaba e dá lugar à indiferença de um encolher de ombros desligado que nos apercebemos de que deixámos a outra pessoa morrer em nós.

E se o mundo acabasse amanhã? / What if tomorrow never comes?



Às vezes ponho-me a pensar no que faria se me dissessem que o mundo, pelo menos o meu, ia acabar amanhã. Nada disso das teorias mayas ou chinesas, mas a sério; que hoje era o meu último dia aqui e que amanhã já cá não estaria para beijar, comer, cheirar, beber, ouvir, falar, ver absolutamente mais nada.
Penso nisso pelo menos uma vez por ano, quando calha, só porque sim, e imagino-me em dois lugares distintos: a minha casa, esta que tem sido minha nos últimos cinco anos, ou na Baixa, junto à Praça de Lisboa. Quanto ao resto, sei o que faria: montaria uma mesa em tons de cor de rosa, que rechearia com tudo aquilo que gosto de comer e de beber, para que pudesse matar antecipadamente as saudades; poria uma lista das músicas de que mais gosto a dar e, claro, juntaria à minha volta as minhas pessoas. Não seriam muitas. Entre dez e vinte, porque são essas que cabem em mim.
Esse exercício, embora em parte deprimente, é bom para perceber quem me é realmente importante, os sentimentos que nutro por cada uma dessas pessoas e o que gostaria de lhes dizer.
Não é fácil fazê-lo, mas acabo sempre por, no dia seguinte, o mais tardar, abrir a boca ou uma janela de um qualquer chat e debitar tudo o que me vai cá dentro.
De vez em quando faz bem darmo-nos o prazer de nos darmos conta do quanto gostamos e do quanto somos gostados.

Sunday 13 April 2014

Mudanças / Changes


Que tenha consciência disso, mudei de casa quatro vezes na minha vida. As duas primeiras foram quando fui e quando voltei de Erasmus, respetivamente. Foi uma mudança temporária, sabia à partida que ia acabar e vim duas ou três vezes a casa, durante esse tempo, pelo que pude fazer a troca das roupas de inverno pelas de verão que, para além dos livros e dicionários, foram as únicas tralhas que foram e vieram comigo.
Pouco depois disso, fui viver com o meu amor. Juntamos as tralhas de ambos, compramos tralhas em conjunto e instalamo-nos numa casa nossa, pequenina, onde não cabia tudo à larga. Foi uma mudança grande, com várias viagens de carro com a mala e o banco de trás atafulhados.
Meses mais tarde mudamos de casa, para uma maior, onde as nossas tralhas antigas, compradas em conjunto e acumuladas ao longo daquele tempo couberam e ainda cabem bastante bem. Foi outra grande mudança, embora dentro da mesma cidade, que implicou listas para que nada ficasse esquecido e para que algumas coisas fossem deixadas, propositadamente, para trás.
Agora preparo-me para fazer a maior mudança da minha vida, metafórica e literalmente. Daqui a trinta e cinco dias vou mudar não só de casa, não só de cidade, mas de país. O meu amor foi indo à frente e levou parte das coisas dele. Para trás deixou-me a mim, a parte das tralhas dele, às minhas e às nossas tralhas todas.
Olho à minha volta e vejo a quantidade de coisas que compramos, que fizemos, que herdamos, para juntar a todas as outras que já tínhamos, e não sei como vamos fazer para selecionar o que vai e o que fica.

Saturday 12 April 2014

Crescer / Growing up


Mais de três anos depois de ter, por fim, percebido que um bebé não é bem o mesmo que um boneco, olhei para o monitor em que se viu, pela primeira vez, o meu irmão mais novo. Gostei dele logo nesse momento, mesmo sem conseguir perceber a imagem diante de mim.
Veio um bebé fofo, com o cabelo mais incrível do mundo, que saiu a mim nos disparates e na maneira de ser (foi-me entregue como afilhado e eu fiz questão de que crescesse, talvez mais do que o desejado, à minha imagem e semelhança).
Não é muito crescido, mas já passou por mais do que a maioria das pessoas na idade dele, sabe o que é o medo a sério, sabe o que é superar os problemas e sabe o que é lutar contra a ansiedade. Por outro lado, sabe o que é o mimo de ser o mais novo de cinco.
O meu irmão bebé que nasceu neste século já tem mais do que uma década de vida. Fez doze anos na quarta e eu fiquei pasmada a olhar para a rapidez com que isto aconteceu que quase me apeteceu decidir não ter filhos, para não ter de vê-los a deixarem de ser bebés e passarem a adolescentes e, eventualmente, a adultos.

Wednesday 9 April 2014

Sensações estranhas / Weird feelings

Na minha vida não há espaço para muita gente. Nem sequer há muita disposição para deixar entrar qualquer um, uma vez que é um processo longo, por vezes doloroso e assustador, o de abrir as portas, mostrar o que sou, aquilo em que penso, aquilo de que gosto e de que não gosto.
Há pessoas que entram, tomam café e vão embora. Cruzamo-nos mais uma vez ou outra, às vezes até todos os dias, mas não passa disso mesmo: de um cruzamento superficial durante o qual sou, até, capaz de contar que tenho um novo trabalho, que me dói a barriga ou que gostava de ir a Cabo Verde.
Uma vez ou outra, essas passagens temporárias vão-se tornando mais permanentes, vou mostrando um bocadinho mais de mim, vou gostando um bocadinho mais e o superficial torna-se profundo. Não é com facilidade que deixo alguém para além de mim ver todas as minhas cores, incluindo o negro, não é com leveza que deixo que o simpatizar evolua para o gostar e, quem sabe, gostar a sério, tanto que quero a outra pessoa para sempre na minha vida.
Não gosto de toda a gente da mesma maneira, porque há pessoas de quem gosto, há outras de quem gosto muito e outras de quem gosto mesmo muito, como se fossem parte de mim. E é dessas que me está a custar imaginar, sequer, separar-me.
Decidi que não quero mais disso: vou ficar-me por quem tenho agora, isolar-me na minha ilha das amizades e não deixar entrar mais ninguém, para não ter de deixar sair mais ninguém.

Monday 7 April 2014

Porto - Londres / Porto - London




Partir é bom, regressar é melhor ainda. Faria todo o sentido se não tivesse o coração dividido em dois: parte dele é portuense, a outra parte é londrina. Esta última foi a que deixei, a que vi ficar, com um aperto na garganta de lágrimas mal disfarçadas à janela do autocarro que me levou para o aeroporto. Mas regressar assim é menos complicado quando se tem a irmã à espera com um jantar acolhedor e muitos mimos. Não resolve tudo, mas ajuda.
Hoje foi o primeiro dia de uma nova etapa que já começou, de facto, há uns meses. De manhã, nada previa que corresse bem: quando acordei tinha o cilindro desligado, apesar de tê-lo mandado aquecer água com muita antecedência, e o cabelo por lavar, o que requereu literalmente bastante ginástica para conseguir sair de casa como se nada de estranho tivesse acontecido; para acabar em grande, percorrer as ruas de Londres como se fosse incansável deixou-me uma dor no pé que, gentilmente, achou que o melhor momento para ceder era precisamente ao descer as escadas da empresa, em frente a um aglomerado de trolhas, perante o qual me estatelei desgraçadamente.
Ainda assim, cheguei a casa feliz, porque dois dos meus medos eram infundados. E as perspetivas fazem-me, agora, sorrir.

Thursday 3 April 2014

Dezasseis / Sixteen


O meu irmão nasceu ainda agora. Estava no Cidade do Porto, junto ao McDonald's, quando a minha mãe me contou que estava grávida, tinha eu nove ou dez anos. Era o meu sonho: ter um bebé em casa para andar ao colo, a mudar fraldas, a dar papinhas. Mal eu sabia o trabalhão que isso dava e que a dose ia ser repetida quatro anos mais tarde (já lá iremos).
O meu irmão foi um dos bebés mais bonitos que já vi, era fofo e apetecia agarrar o tempo todo.
Hoje (ontem) fez dezasseis anos e eu não sei bem como é que o tempo passou assim a correr: já é mais velho do que eu quando o vi pela primeira vez, experimentou pela suposta primeira vez um copo de vinho e tem uma namorada. Namorada essa que me tratou por você. Consegui perceber porquê: sou baixinha, tenho comportamentos de criança, rio e falo alto mas, no fundo no fundo, sou dez anos mais velha do que ela, tenho um curso e sou casada.
Hoje senti-me, acho que pela primeira vez, velha.