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Friday 15 November 2013

Saudade

Quando se pede a um português que se pronuncie sobre o seu vocábulo preferido, é quase certo que se vai ouvir o termo saudade. É um cliché, um lugar comum, algo que muita gente sente necessidade de afirmar apenas por ser uma palavra única não encontrada em mais língua nenhuma no mundo.
Mas a verdade é que, apesar de ter uma sonoridade melodiosa, tradutora do espírito bem português do saudosismo por um tempo glorioso que foi, que esteve e que já não volta, a maioria de quem a reclama como sua preferida não pensa no seu verdadeiro significado.
O priberam diz-nos que saudade é 

1. Lembrança grata de pessoa ausente ou de alguma coisa de que alguém se vê privado.

E seria muito bonita se não tivesse a consequência: 

2. Pesar, mágoa que essa privação causa.

Sentir saudades não é um estado de espírito agradável, traz uma sensação de impotência e de dor que muito dificilmente é superada. Algumas são temporárias, é verdade, mas há outras bastante permanentes, mesmo que essa permanência não seja intermitente e, por isso mesmo, ajude a sarar, talvez só ligeiramente, com o tempo.
Hoje, mais do que nunca antes, fala-se em saudades. Saudades dos amigos que emigraram, da família que se deixou para trás, do país que se trocou em nome de uma vida melhor, de um futuro ou de um passado planeados com cuidado e deixados abandonados ao sabor do acaso. E nem por isso, ou talvez seja por isso mesmo, saudade se reveste de um sabor agradável ou de um colorido manto de significado.
Cada vez mais vejo a saudade como aquilo que não quero sentir. É mais forte do que um ódio, do que uma necessidade de vingança ou de injustiça, porque reúne-as a todas em nome do amor. Não há nenhuma palavra tão confusa como saudade.

É bom poder ter saudades. Mas senti-las dói demais.

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